Trabalhei por seis anos na área de qualidade e outros seis na gerência de projetos de grande porte. Tive a oportunidade de aprender muito nestas duas áreas. Quando se tem equipes de algumas centenas e alguns milhões para administrar parece que nada pode esperar, tudo é urgente e para ontem. É justamente em situações assim que a melhor coisa a fazer é simplesmente não reagir, e sim, dar um passo para trás.
Pense comigo:
Quando estamos envoltos em um problema qualquer nossos sentimentos estão a flor da pele. Mentalmente, nossos processos cognitivos são prejudicados, nos fazendo pender a balança para o correr ou para o lutar. É reflexo. Não reflexivo.”
É um reflexo, pois no sentido evolutivo natural, quando nossa sobrevivência era posta à prova não havia tempo de análise complexa de cenário (e convenhamos, ainda não há). E justamente por ser um mecanismo tão “primitivo” é o que nosso cérebro processa e nos trás a consciência a resposta muito mais rápida. Não que isto seja de todo mal.
Mas, já não vivemos em savanas e muito provavelmente nosso almoço não vai querer nos matar. Porém, o mecanismo ante alguma ameaça ainda é o mesmo. A natureza não evolui jogando fora o trabalho anterior, mas modifica e acrescenta. Nunca põe nada fora – seria um desperdício de tempo e energia. Assim, o pensamento reflexivo se desenvolveu bem depois, quando já não precisávamos entrar numa batalha para poder comer, ou acasalar (embora alguns ainda o façam).
É nosso sistema de resposta autômato de sobrevivência que responde mais rápido ao estímulo, enquanto a porção mais evoluída da mente demora e exige mais energia para analisar e responder, já que está associado ao pensamento complexo e reflexivo.
Logo, aquele problema que chega como uma bela e batata quente nas mãos excita nosso sistema de sobrevivência, e a resposta é mais imediatista: lutar ou correr. Isso nos estressa, prepara nosso corpo para a ação, mas como dito, prejudica nossa reflexão. Enquanto isso, nosso pensamento reflexivo ainda está analisando o cenário e decidindo o que fazer, consumindo energia e tempo enquanto a batata continua a queimar as mãos.
E quando esta briga é a constante, diante de uma rotina estressante, que sistema faz mais pressão pela reação?
Bingo! Meu caro Watson, nosso sistema “primitivo”.
Portanto, é preciso internalizar 3 coisas de extrema importância:
O problema que chega já vem contaminado com a carga de estresse de quem o trouxe;
O problema que chega já é um reflexo de uma análise pouco reflexiva;
O problema que chega já vem pronto para te fazer reagir sem ponderar.
Quando estamos cientes dessa dinâmica, nos tornamos hábeis em dar um passo para trás e não se deixar levar pelos sentimentos que estão aflorados e te pressionando a reagir de pronto e imediato.
E aqui entra uma diferenciação crítica que pouca gente compreende: a dinâmica entre ação e reação. Mas, isto não é o foco para este post.
O que vale ser dito agora é: “dê um passo para trás e acalme a cuca”.
Três coisas fundamentais vão ocorrer:
Você vai conseguir barrar a avalanche de sentimentos que pioram a situação;
Você vai conseguir se permitir um mínimo momento de reflexão acerca do contexto;
Você vai conseguir reagir de forma muito mais assertiva na situação.
Isso faz muita diferença na vida profissional. Não siga a lógica do repassar a batata quente para os outros somente como forma de se livrar do problema. Você só vai estar complicando a situação.
Mesmo que não seja você o solucionador, entregue a batata temperada e pronta para comer. Não se trata de fazer ou assumir a responsabilidade do que não lhe cabe, mas de ser a diferença em um ambiente de estresse.
Você é responsável por aquilo que cativa. Sempre!”
E se você pensa em exercer um cargo de liderança, aprender a dar um passo para trás e lidar com o pensamento complexo e reflexivo não é opção, é regra básica de sobrevivência.